Uma boa semana de moda tem que ter criadores que surpreendem pelo espetáculo (como Rick Owens), outros que sugerem roupas conceituais (a mestra é Rei Kawakubo, da Comme des Garçons), e uma terceira turma que propõe roupa que vai para as ruas. Às vezes estes últimos destoam um pouco, parecem aquém do talento artístico dos que atuam nas marcas derivadas das Maisons. Mas dá um equilíbrio, parece um respiro dos grandes figurinos e performances. Em compensação, se a maioria for roupinha comercial, pronta para as ruas, não haveria interesse de gente que voa 12 horas para ver de perto.
Daí, que convém ver o máximo dos eventos. Chegou o convite Vuitton? Ótimo! Maravilhoso! Mas não se despreza o convitinho para um showroom em uma galeria de arte, um teatro abandonado ou um ateliê do próprio – foi assim que conheci o Gustavo Lins, o único brasileiro que atualmente faz parte da Alta Costura.
Então, haja tempo para ver tudo o que se quer ver.

Junya Watanabe – este é do clube do Conceito. À primeira vista, inviável – nesta coleção deu um show de franjas para todos os lados. Em preto, cinza, bege. Aí, entra uma jaquetinha de couro por cima, um trench com franjas curtas na barra, um lote de camisas brancas sobre jeans rasgados. Olha só, quanta confirmação: de cores, do trench revisto, das camisas brancas. Nem falo do jeans rasgado, porque acho que já deu, no Brasil.

Haider Ackermann – no meio termo entre conceito e quase-básico. Uma alfaiataria de ternos e paletós, em tecidos metalizados plissados, como papéis de bombom. Em azul, roxo, ocre. Me lembrou Fortuny. Saias transparentes dispensáveis, tops de faixas cruzadas indispensáveis. Bonito, festivo, de uso rápido. Já pensaram, na terceira vez que a adepta vestir seu paletó Ackermann, o povo em volta vai zoar. “Lá vem a mulher do paletó bombom azul!”

Alberto Biani – inspiração em viagens pela Provence e Inglaterra, resultado uma coleção que dá vontade de vestir já. A base é a alfaiataria masculina, mais as estampas de gravataria, em seda. Muito azul, belos beges, casacos 7/8 de corte impecável, em brocados e jacquards. Bonito e praticamente eterno. Compararia com o estilo da Richards no Brasil, na versão feminina.

E mais: quem curte roupa antiga vai no mínimo se divertir no . Não entregam no Brasil, mas quem vem pra Paris pode comprar / A Grand Epicerie, aquele mercado de luxíssimo do Le Bon Marché, está em plena reforma, com uma adega nova e em novembro, um restaurante no último andar. Os chocolates são uma loucura / quanto custa: um prato de penne com tomate, manjericão e queijo, mais uma garrafinha de suco de laranja com morango:€ 7,20, no Monoprix. Rápido, fator mais importante nesta semana.