Enfim, o Fashion Rio começa a descer a ladeira. Depois de edições espremidas em locais  inóspitos como o Porto – sim, muito lindos o visual, a paisagem, os galpões; muito feio o acesso, a dificuldade de estacionar, a logística – sai o anúncio de que não haverá edição de inverno na cidade.

Interessante, porque o argumento é sui generis. O Rio não tem frio, portanto, não precisa de evento de inverno. Quer dizer que Londres, Paris ou Milão nem precisariam ter vastas semanas de moda de verão, porque são poucos os dias quentes por lá. Mas estas cidades insistem em apresentar coleções de verão, que incoerência!

Mais interessante ainda é o fato de tanto as marcas como as instituições do Rio acharem normal esta estratégia de esvaziamento. Evento ainda é o marketing da moda. Pode ser que um desfile custe caro, que as coberturas sejam pequenas, que do jeito que estava, com coleções pouco comerciais, o retorno financeiro fosse pouco. Mas como também não há investimento em publicidade, resta apenas o patrocínio individual, pagar e vestir supostos formadores de opinião. É um alcance pequeno, que dificilmente compete com uma foto de bom desfile.

O Fashion Rio chegou a um formato ideal, quando reunia os desfiles das grifes (e não era somente um grupo do Rio) e ao mesmo tempo montava espaços para vendas no atacado, no Fashion Business. Ali estavam as melhores histórias, ali seria um nascedouro de talentos, enquanto nas passarelas rolava o espetáculo que rendia belas imagens.

O que leva uma instituição ligada à indústria não entender este corte na evolução de um evento? Ele ficou caro? Quando barateou, ficou bom? Um evento que tinha 30 coleções e passa a ter menos de 20 ficou melhor? Estranho, porque Nova York, para tentar competir com a criatividade europeia, cresceu sua semana para mais de 200 desfiles e eventos.

Saiu em todos os veículos e mídias que, durante a Copa, o Rio foi a cidade que atraiu mais turistas. Claro, temos problemas, inseguranças, preços altos. Afinal, estamos no Brasil. Mas vamos pensar assim: a França sem Paris, teria turistas visitando Bordeaux ou Lyon? Na Inglaterra, quantos viajantes se abalam para conhecer o maravilhoso País de Gales, em lugar de Londres?

Não é uma escolha minha nem dos cariocas – é dos turistas. Se o Rio deixa de ter um evento de moda, quem perde é a moda do país. Temos belos eventos em Belo Horizonte, Maceió, Fortaleza, Curitiba. Mas o mundo ainda quer saber como se veste a menina de Ipanema, o que as beldades cariocas fazem com os cabelos, quem são os novos criadores das comunidades daqui.

Ah, então se não lançamos inverno, não teremos plataformas de novidades do Rio para o Dia das Mães, Namorados, férias de julho, São João no Nordeste. Em um setor citado como competidor com a indústria automobilística, como gerador de empregos; que reduz índices de pobreza em comunidades e cidades fora do circuito do glamour, só para dar o toque social no assunto.

Ora, que bobagem este pessimismo: já chegaram a Gap, a Forever 21, Versace, Hugo Boss, Desigual, Gucci, o mundo está de olho no incipiente mercado brasileiro – quem precisa de moda nacional?